História

A criação do Prêmio Jabuti
 

A história do Prêmio Jabuti remonta ao fim dos anos 50, um período permeado por desafios significativos para o mercado editorial, incluindo recursos escassos e uma articulação limitada dentro do segmento. Apesar dessas adversidades, os dirigentes da Câmara Brasileira do Livro demonstravam um entusiasmo inabalável.

As discussões para a criação do Prêmio foram lideradas pelo então presidente da entidade, Edgar Cavalheiro, e pelo secretário Mário da Silva Brito, ambos renomados intelectuais e estudiosos da literatura brasileira, juntamente com outros membros da diretoria do biênio 1955-1957 que estavam interessados em reconhecer e premiar autores, ilustradores, livreiros, editoras e gráficas que se destacassem a cada ano.

Essas conversas em torno da concepção de uma "láurea" ou "galardão", como eram denominadas na época, tomaram forma na diretoria subsequente, de 1957-1959, sob a presidência de Diaulas Riedel. Foi sob sua gestão que se consolidou a escolha do jabuti como símbolo do prêmio e a realização do concurso para a confecção da estatueta, vencido pelo escultor Bernardo Cid de Souza Pinto. A primeira premiação ocorreu também durante a gestão do presidente Riedel.

No final de 1959, no auditório da antiga sede da CBL na Avenida Ipiranga, foi realizada a cerimônia do 1º Prêmio Jabuti, onde foram laureados nomes como Jorge Amado, na categoria Romance, pela obra "Gabriela, Cravo e Canela", e Isa Silveira Leal, na categoria Literatura Juvenil, pela obra "Glorinha". A editora Saraiva foi agraciada com o prêmio de Editora do Ano.

O maior diferencial do Prêmio Jabuti, em comparação com outros prêmios, é sua abrangência: além de valorizar os escritores, ele destaca a qualidade do trabalho de todos os profissionais envolvidos na criação e produção de um livro. Anualmente, editoras dos mais diversos segmentos e escritores independentes de todo o Brasil inscrevem suas obras na esperança de receber a cobiçada estatueta e o reconhecimento que ela proporciona. Receber o Prêmio Jabuti é um desejo acalentado por aqueles que veem o livro como um instrumento essencial para a disseminação da cultura.

Mas, por que escolher o "jabuti" como nome para um prêmio literário? A resposta remonta ao contexto cultural e político da época, influenciado pelo modernismo e pelo nacionalismo, que valorizavam a cultura popular brasileira, suas raízes indígenas e africanas, assim como suas figuras míticas, símbolos ancestrais carregados de sabedoria e experiência de vida, transmitidos de geração em geração. Sílvio Romero, Mário de Andrade, Monteiro Lobato e Luís da Câmara Cascudo foram pioneiros, entre o final do século XIX e o início do século XX, na pesquisa, no estudo e na divulgação dessa rica cultura popular.


 
A trajetória da premiação
 

Ao longo de seus 66 anos de existência, o Prêmio Jabuti passou por significativas transformações. Inicialmente, a entrega das estatuetas acontecia na antiga sede da entidade, na Avenida Ipiranga, mas logo se mudou para as Bienais do Livro. No entanto, à medida que o Prêmio Jabuti ganhava prestígio, os diretores da CBL sentiram a necessidade de criar um evento à altura de sua credibilidade no mercado editorial e na sociedade em geral.

Em 2004, ocorreu a primeira grande cerimônia no Memorial da América Latina, repetida no ano seguinte. Posteriormente, a célebre festa literária brasileira encontrou seu lar na Sala São Paulo, um dos locais mais nobres da capital paulista. De 2014 a 2019, foi realizada no Auditório Ibirapuera Oscar Niemeyer. Entre 2020 e 2021, a celebração foi realizada remotamente, com transmissão pela Internet. Já em 2022 e 2023, o icônico Theatro Municipal de São Paulo foi palco da premiação.

Em sua criação, o regimento interno do prêmio incluía apenas sete categorias. No entanto, o Prêmio Jabuti se adaptou às mudanças no cenário literário e cultural, expandindo para abranger todas as áreas envolvidas na produção de um livro. Categorias como Adaptação, Projeto Gráfico e Tradução foram adicionadas, juntamente com as tradicionais como Romance, Conto, Crônica, Poesia, Literatura Infantil, Literatura Juvenil, Reportagem e Biografia.

Uma das iniciativas mais encantadoras foi a criação das categorias Livro do Ano de Ficção, em 1991, e Livro do Ano de Não Ficção, em 1993. Revelados apenas durante a cerimônia de premiação, esses prêmios marcaram o ponto alto do evento, aguardados com grande expectativa por todos os profissionais do mercado editorial.

Ao longo dos anos, novas categorias foram adicionadas para refletir mudanças. A partir de 2017, o Prêmio Jabuti incorporou Histórias em Quadrinhos e Livro Brasileiro Publicado no Exterior, esta última com o apoio do Brazilian Publishers, projeto de fomento às exportações de conteúdo editorial brasileiro.

 

A reformulação
 

Em 2018, o Prêmio Jabuti completou 60 anos e foi completamente repaginado para se tornar mais competitivo e alinhado com as necessidades do mercado editorial e dos autores. As categorias foram reorganizadas em quatro eixos: Literatura, Ensaios, Livro e Inovação, com a introdução de critérios mais claros e a premiação de apenas um vencedor por categoria. E um único Livro do Ano.

A partir de 2019, um novo conselho curador assumiu a responsabilidade pela curadoria do Prêmio Jabuti, realizando ajustes nas categorias de Literatura, Ensaio e Livro. A divulgação dos finalistas foi retomada em duas etapas, revelando as dez e cinco obras finalistas, respectivamente. Além disso, foi criado o "Esquenta Jabuti", um evento prévio à cerimônia de premiação que contou com a presença da Personalidade Literária homenageada na edição, a escritora Conceição Evaristo.

Este conselho curador também liderou as inovações do 62º Prêmio Jabuti para oferecer mais clareza aos participantes na inscrição de suas obras. Nesse sentido, foi introduzida a categoria Romance de Entretenimento e a categoria anteriormente denominada Romance foi alterada para Romance Literário, permitindo que obras de gêneros como policial, fantasia e ficção científica recebessem o selo de qualidade do Jabuti. No eixo de Ensaios, a categoria Humanidades foi substituída por duas novas categorias: Ciências Humanas e Ciências Sociais, alinhando-se à classificação seguida tanto pela Capes quanto pelo CNPq.

Diante da pandemia declarada em março de 2020, a CBL optou por realizar a cerimônia do 62º Prêmio Jabuti de forma totalmente virtual, garantindo a segurança de todos os participantes. Essa iniciativa permitiu que mais de 22 mil pessoas em todo o país acompanhassem a transmissão da entrega das estatuetas e outras premiações em tempo real pelas redes sociais da CBL. Além disso, a 62ª edição destacou as campanhas "Retomada das Livrarias" e #defendaolivro, iniciativas da Câmara Brasileira do Livro para apoiar o mercado editorial durante a pandemia.

Na 63ª edição, um novo curador e conselho foram responsáveis por trazer inovações para simplificar e agilizar a participação. O processo de inscrição foi transferido para o Portal de Serviços CBL, e foi concedido um desconto de 10% para todas as inscrições realizadas nos primeiros 30 dias. Além disso, o regulamento foi ajustado para tornar os eixos e categorias mais claros, com mudanças como a substituição da categoria Humanidades por Ciências Humanas e Ciências Sociais.

A cerimônia de premiação da 63ª edição foi realizada online pela segunda vez consecutiva, e contou com momentos especiais, como a presença do autor Ignácio de Loyola Brandão para receber a estatueta de Personalidade Literária de 2021. O tema "Os livros mudam nossa realidade" foi explorado através de perfis de brasileiros de diferentes regiões cujas vidas foram transformadas pela leitura.

Na 64ª edição, alguns critérios foram revistos pela curadoria, e a categoria Biografia, Documentário e Reportagem foi atualizada para Biografia e Reportagem. Em 2022, uma mudança significativa foi a escolha da Personalidade Literária, que não precisava mais ser necessariamente um autor de Ficção, refletindo a amplitude do conceito de literatura. Sueli Carneiro foi a primeira Personalidade Literária não proveniente do Eixo Não Ficção.



Mais novidades

Na 65ª edição do Prêmio Jabuti, a primeira de Hubert Alquéres como curador, foi anunciada uma nova categoria, denominada Escritor Estreante, que passaria a integrar o Eixo Inovação. Esse novo reconhecimento tinha como principal objetivo contemplar autores estreantes, visando dar visibilidade a esses escritores e incentivar a escrita e a leitura.

Outra mudança significativa foi o ajuste no prêmio da categoria Livro do Ano, que passou de R$ 100 mil para R$ 70 mil. Isso ocorreu porque, além do valor em dinheiro e da estatueta dourada, o vencedor terá a oportunidade de divulgar sua obra no exterior, durante a Feira do Livro de Frankfurt, e também participar de reuniões com editores, agentes literários e escritores de outros países.

À medida que o Prêmio Jabuti alcança sua 66ª edição, sua trajetória se torna uma testemunha vívida do panorama literário brasileiro. Ao longo dos anos, este prestigioso prêmio não apenas celebrou talentos estabelecidos, mas também abriu portas para novos escritores, ampliando os horizontes da literatura nacional. A cada edição, o Jabuti continua a evoluir, adaptando-se às mudanças do mundo editorial e abraçando a diversidade cultural que define a identidade literária do Brasil.

Ao olharmos para o futuro, podemos antever um caminho brilhante para este ícone literário, onde sua influência e relevância continuarão a moldar e inspirar gerações de escritores e leitores, honrando assim o poder transformador das palavras e o legado duradouro da literatura brasileira.